25 de fev. de 2016

¨APRESENTADO O TAO TE CHING¨ 18; 19; 20 e 21

Poema 18 do Tao Te Ching

大道廢
有仁義
智慧出
有大偽
六親不和
有孝慈
國家昏亂
有忠臣

Quando o grande Tao é abandonado,
Aparecem a benevolência e a justiça.
Quando surge a sabedoria,
Aparece a hipocrisia.
Quando os Seis Relacionamentos não são harmônicos,
Aparecem o amor filial e a compaixão.
Quando a pátria está em confusão,
Aparecem os servidores leais.


Quando um conceito é formado, significa que ele passou a ser uma necessidade. Segundo Lao Tzu, na longínqua antiguidade todos viviam de acordo com o grande Tao. Tudo era espontaneamente correto. Quando se perdeu o grande Tao, e as coisas passaram a não dar certo naturalmente, foram criados conceitos para suprir essa falta, o que o taoísmo considera artificialismo: benevolência, justiça, amor filial, compaixão, sabedoria e lealdade - virtudes capitais para o confucionismo.
Os "Seis Relacionamentos" são três pares de relações mútuas: pais-filhos, irmãos mais velhos-irmãos mais novos, marido esposa.
Como volta e meia aparecem críticas do taoísmo ao modelo confucionista, a mente ocidental tende a colocá-los em campos opostos. No entanto, como certo estudioso já se expressou:
"Tradicionalmente, todo chinês era confucionista na ética e na vida pública, taoísta na vida privada e em questões de higiene, e budista na hora da morte, com uma saudável pitada de xamanismo popular lançada ao longo da jornada”

Quando os Seis Relacionamentos não são harmônicos, aparecem o amor filial e a compaixão.

Os pais devem criar e educar os filhos.
Os filhos devem obedecer ao pais e ampará-los na velhice.
Os irmãos mais velhos devem orientar os mais novos.
Os irmãos mais novos devem seguir os mais velhos.
O marido deve amar e proteger a esposa.
A esposa deve amar e servir o marido.

O fato de estar explícito o comando nessas frases, através do verbo "dever", indica que esses comportamentos não são mais naturais (ou seja, de acordo com o Tao), e precisam de uma regulação externa.

Quando a pátria está em confusão, aparecem os servidores leais.

Quando está tudo bem na pátria, ninguém sabe nem quem é o governante.
Quando surge a confusão, os movimentos políticos palacianos são mais evidentes, o governante precisa de auxílio e de apoio, aí aparecem os ministros leais.
A figura do ministro (ou outro servidor) leal é louvada em outras escolas, como a confucionista e a moísta, mas para o taoísmo, é um sintoma de um problema no governo


Poema 19 do Tao Te Ching

絕聖棄智
民利百倍
絕仁棄義
民復孝慈
絕巧棄利
盜賊無有
此三者以為文不足
故令有所屬
見素抱樸
少私寡欲

Eliminando a sabedoria e descartando a inteligência,
O povo se beneficia cem vezes mais.
Eliminando a benevolência e descartando a justiça,
O povo retorna ao amor filial e à compaixão.
Eliminando as técnicas e descartando o ganho,
Acabam-se os ladrões e os bandidos.
Essas três recomendações não bastam;
É necessário mais outra sobre o que incluir:
Aparência modesta, com simplicidade no interior;
Reduzir o egoísmo e diminuir os desejos.


Lao Tzu apresenta, nesse capítulo, quatro conjuntos de recomendações ao governante:
- eliminar a sabedoria e descartar a inteligência;
- eliminar a benevolência e descartar a justiça;
- eliminar as técnicas e descartar o ganho;
- manter um exterior modesto e uma simplicidade interior, diminuir o egoísmo e os desejos.

O último conjunto de recomendações, que é mais facilmente compreendido, é um sumário dos outros três. Ele apresenta de maneira positiva (o que começar a fazer) aquilo que os outros três apresentam de maneira negativa (o que deixar de fazer).

Instituições exteriores inventadas pelo homem devem dar lugar a elementos da constituição interna orgânica da natureza.

Sabedoria/Inteligência - conhecimentos acumulados, que apenas nos enchem e não nos fazem felizes.

Benevolência/justiça - a ação caridosa que deve ser cultivada para que alguém seja reconhecido como "justo".

Técnicas/ganho - as invenções e a tecnologia são logo apropriadas por alguns poucos para gerar lucro a partir da exploração de muitos.

Para Lao Tzu, o aperfeiçoamento do homem e da sociedade não é feito pelo acúmulo de qualidades e ações deliberadas, mas pelo puro esvaziamento de todas as artificialidades. Ele prega uma "desregulamentação" das virtudes, para que a grande Virtude, que é o poder expresso do Tao possa, simplesmente, acontecer. Daí o nome do livro: "Clássico do Tao e seu Poder (Te). TAO e TE são os grandes temas aí.


Poema 20 do Tao Te Ching

絕學無憂,
唯之與阿,
相去幾何?
善之與惡,
相去若何?
人之所畏,
不可不畏。

荒兮其未央哉!
衆人熙熙,
如享太牢,
如春登臺。

我獨怕兮其未兆;
如嬰兒之未孩;
儽儽兮若無所歸。
衆人皆有餘,
而我獨若遺。
我愚人之心也哉!
沌沌兮,
俗人昭昭,
我獨若昏。
俗人察察,
我獨悶悶。
澹兮其若海,
飂兮若無止,
衆人皆有以,
而我獨頑似鄙。
我獨異於人,
而貴食母。

Eliminando a erudição, acabam-se as preocupações.
Entre "Um-hum!" e "Oh!",
Quanta diferença há?
Entre o belo e o feio,
Que diferença há?
O que os homens temem
É impossível não temer.

Oh, que imensa aridez!
O povão fica radiante,
Como quem desfruta de um grande banquete,
Como quem passeia pelos terraços de primavera.

Eu, por outro lado, não manifesto um sinal de preocupação.
Como um bebê que ainda não sorri,
Como se, exausto, não tivesse para onde retornar.
O povão vive pela fartura,
Enquanto eu não me importo com nada.
Minha mente é de um estúpido!
Alheio a tudo.
As pessoas comuns querem o brilho,
Mas eu sou nebuloso.
As pessoas comuns investigam a fundo,
Eu, por outro lado, fico em minha perplexidade.
Cheio de marolas, como o mar!
Inquieto, como o vento agitado!
As pessoas comuns tem os meios e fins precisos,
Eu sou rude e desprezível.
Eu sou diferente dos outros,
Dou valor à mãe que alimenta.


Lao Tzu continua sua crítica ferrenha contra a figura do sábio que é cheio de conhecimento.

Isso pode nos causar estranhamento, pois cultivamos um "sábio chinês" na nossa imaginação. Talvez um velhinho frágil, de vetusta barba, em atitude circunspecta, ouvindo nossas angústias, pontuando nossa fala com um eventual "Um-hum" de concordância ou um "Oh!" de admiração. Lao Tzu simplesmente aniquila essa fantasia.
Discussões teóricas sobre a beleza e a feiúra levam a delimitações conceituais artificiais.
Disso nada se conclui para o bom proveito da vida. O que os homens temem, continuam a temer.
O discurso desses sábios é de uma aridez sem fim, mas cativa o povão, que se deleita ao ouvir.
Lao Tzu não se importa com nada disso. Mantém sua inocência e não se perturba com esses assuntos. O bebê que ainda não aprendeu a sorrir mantém sua pureza, ignorando os estímulos exteriores.
O povão gosta da abundância e busca a fartura. Lao Tzu não está nem aí pra isso.
Em vez uma superfície plácida, ele tem marolas como o mar. Em vez de estático e imóvel, ele se agita como o vento.
Enfim, ele valoriza "a mãe que alimenta". A "mãe de todas as coisas" é o Tao (ver poema 1), e falar que é alimentado por essa mãe quer dizer que ele é sustentado pelo Tao.


Poema 21 do Tao Te Ching

孔德之容
唯道是從
道之為物
唯恍唯惚
忽兮恍兮
其中有象
恍兮忽兮
其中有物
窈兮冥兮
其中有精
其精甚真
其中有信
自古及今
其名不去
以順衆甫
吾何以知衆甫之然哉
以此

A expressão do grande Poder
Está em seguir o Tao.
A materialização do Tao
É, de fato, indefinida e indistinta.
Indistinta!! Indefinida!!
Em seu interior estão as formas.
Indefinida!! Indistinta!!
Em seu interior estão as coisas.
Profundo!! Obscuro!!
Em seu interior está a essência.
Sua essência é o mais verdadeiro.
Nela está a certeza.
Desde tempos antigos até agora,
Seu nome não se perdeu.
A ele segue o patriarca dos povos.
Como eu conheço a natureza do patriarca dos povos?
Por isso.


Lembrando que o Tao Te Ching é o "Clássico do Tao e seu Poder", temos aqui uma menção a esse poder: ele se manifesta naquele que segue o Tao. O caractere 德 significa, comumente, "virtude, moralidade", mas a filosofia taoísta utiliza-o para expressar a manifestação do Tao em alguém, ou o poder vindo do Tao. Vários capítulos vão se dedicar ao tema desse Poder.
Quando o Tao está para ser manifestado como esse Poder, não é bem discernível. Mas em seu interior está a ideia (forma), a materialidade e a essência de todas as coisas.
E, numa espécie de círculo que contém a si mesmo, dentro da essência está aquilo que não perde o nome, isto é, o Tao. O patriarca de todos os povos, isto é, a origem de tudo, se conforma ao Tao e por isso existe. Se não se conformasse ao Tao, não existiria.

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