25 de jul. de 2016

Curso: CUIDADO do CUIDADOR com CHI KUNG

O Cuidado do Cuidador com o Chi Kung - Em GOIÂNIA
Assepsia e fortalecimento energético

O Chi Kung, Qi Gong, 氣功 ou cultivo da energia, faz parte da Medicina Tradicional Chinesa. É o principal fator para a eficácia dos resultados de toda e qualquer terapêutica energética.

Por meio de técnicas de captação, circulação e exteriorização de energia, este curso visa trabalhar o alinhamento pessoal com o Tao (Unidade) e as posturas físicas e mentais que promovem saúde integral tanto do Cuidador quanto do Paciente em tratamento, além da limpeza energética do ambiente de trabalho.

Aliando teoria e prática, estimula a autoconsciência dos corpos físico, mental e emocional, o fortalecimento do campo vibracional entre os atendimentos e a otimização dos processos terapêuticos aplicados.

Desenvolvido especialmente para Terapeutas que atuam no cuidado energético ou com massagens e todos os tipos de terapias complementares, como também para professores e instrutores em geral, ou para pessoas que se interessem pelo tema.

Programação:
  • Transmitir conhecimento sobre a utilização de técnicas para a assepsia e fortalecimento energético pessoal, do interagente e do ambiente. - Técnicas de Qi Gong
  • Demonstrar por meio de exercícios práticos os benefícios do alinhamento e posturas de preservação - Ressonância com o TAO 
  • Capacitar os participantes na otimização de resultados em processos terapêuticos 
  • Promover a utilização de técnicas para restabelecer a higidez do campo vibracional, evitando o contágio energético. 
  • Promover a auto-concientização holossomática e multidimensional - Processos meditativos 

Sexta feira dia 26/08/16: Evento Aberto
Das 19:00h às 20:00h - aula aberta de Tai Chi Chuan;
Das 20:15h às 22:00h - palestra aberta sobre Chi Kung.

Sábado dia 27/08/16:
Das 07:30h às 08:30h - aula aberta de Tai Chi Chuan;
Das 09:00h às 13:00h - 1ª parte do curso;
Das 14:30h às 19:00h - atendimentos individuais.

Domingo dia 28/08/16:
Das 07:30h às 08:30h - aula aberta de Tai Chi Chuan;
Das 09:00h às 13:00h - 2ª parte do curso;
Das 14:30h às 19:00h - atendimentos individuais.

Local: O ARCANO 


Ao lado da Escola Piaget – Goiânia-GO 
Inscrições e agendamentos:
Maurício e Ananda: (62)9.9905.6120      Email: lms.mauricio@gmail.com


10 de jul. de 2016

"APRESENTANDO O TAO TE KING": 26; 27 e 28

Por: Aristein Woo
Poema 26 do Tao Te Ching

重為輕根
靜為躁君
是以君子
終日行不離輜重
雖有榮觀
燕處超然
奈何萬乘之主
而以身輕天下
輕則失本
躁則失君

O peso é a raiz da leveza;
A quietude é senhora da agitação.
Por isso o nobre
Caminha o dia inteiro sem se afastar de seu carro de bagagem.
Apesar dos guardas pessoais
E dos locais de repasto, ele mantém sua altivez.
Como é possível que um rei com dez mil carros
Negligencie a si mesmo diante do mundo?
Pela leveza perde-se a raiz;
Pela agitação perde-se o senhorio.

Postura Zhan Zhuang - Meditação

O corpo é a raiz material do espírito.
Muitas tradições consideram o corpo como algo a ser abandonado para haver o progresso espiritual. Chegam a submeter o corpo a castigos e sofrimento para cultivar o espírito.
Para o taoísmo, no entanto, o cuidado com o corpo é uma disciplina para o desenvolvimento espiritual. A partir dessa visão desenvolveram-se as várias técnicas de alquimia interna da medicina chinesa.
Essas técnicas todas têm, em comum, o cultivo da quietude corporal e da estabilidade mental.



Poema 27 do Tao Te Ching
善行無轍迹
善言無瑕讁
善數不用籌策
善閉無關楗
而不可開
善結無繩約
而不可解

是以聖人
常善救人
故無棄人
常善救物
故無棄物
是謂襲明

故善人者
不善人之師
不善人者
善人之資

不貴其師
不愛其資
雖智大迷
是謂要妙

Quem tem excelência no caminhar não deixa pegadas;
Quem tem excelência no falar não se engana nem ofende;
Quem tem excelência no cálculo não usa instrumento de contagem;
Quem tem excelência no fechar não precisa de ferrolhos;
E não se abre o que ele fecha.
Quem tem excelência no amarrar não precisa de cordas;
E não se desata o que ele amarra.

Assim, o Sábio
Tem sempre excelência em salvar as pessoas;
E não as abandona.
Tem sempre excelência em salvar os seres;
E não os abandona.
Nisso é chamado "Aquele que segue a Luz".

Assim, a pessoa excelente
É mestra das pessoas que não são excelentes.
As pessoas que não são excelentes
São a matéria-prima das pessoas excelentes.

Se o mestre não é valorizado,
Se a matéria-prima não é amada,
Ainda que haja sabedoria, haverá grande confusão.
Esse é um milagre essencial.


Existem pessoas que dominam com tanta excelência a sua arte, o seu ofício, ou alguma habilidade que seja, que seu desempenho parece miraculoso. Longas discussões são inúteis - conduzem ao erro e ferem o outro. A real consciência é alcançada por meio do que está além das palavras.
O que tem excelência no Tao não se aparta da humanidade nem dos outros seres. Pelo contrário, pela ação aparente miraculosa, resgata essas pessoas, e esses seres são para ele, matéria-prima, a quem ele devota sua obra. Eles, por sua vez, rendem-se ao seu valor.
Tanto o confucionismo quanto o taoísmo enfatizam o papel do mestre. O taoísmo, no entanto, não considera essa relação fixa e eterna. No mundo ideal taoísta não há hierarquia, não há estratificação social, todos são excelentes. E lembramos aí da sociedade na época de Lao Tzu, com reis, vassalos, guerreiro e escravos; esses últimos, sem nenhuma excelência reconhecida então.
Quando se está no Tao, tudo se realiza pelo Wu-Wei, e tudo está perfeito.



Poema 28 do Tao Te Ching

知其雄
守其雌
為天下谿

為天下谿
常德不離
復歸於嬰兒

知其白
守其黑
為天下式

為天下式
常德不忒
復歸於無極

知其榮
守其辱
為天下谷

為天下谷
常德乃足
復歸於樸

樸散則為器
聖人用之
則為官長
故大制不割

Conhecendo seu masculino
E guardando seu feminino,
Torna-se ribanceira do mundo.

Tornando-se ribanceira do mundo,
O Poder constante não se afasta dele.
Ele retorna à condição de bebê.

Conhecendo sua brancura
E guardando sua escuridão,
Torna-se modelo para o mundo.

Tornando-se modelo para o mundo,
Não erra o Poder permanente.
Ele retorna à não-polaridade.

Conhecendo sua fartura
E guardando sua ruína,
Torna-se o vale do mundo.

Tornando-se o vale do mundo
E com suficiência no Poder permanente,
Retorna à condição de um pedaço de pau.

O pedaço de pau é cortado para formar utensílios,
O sábio os utiliza
Para conduzir os altos oficiais.
Assim, a grande obra não é quebrada.


Vivemos em dualidade. Altos e baixos, vitórias e derrotas. E em nós mesmos enxergamos dualidade: masculino e feminino (ou animus e anima),
Indo além dessa dualidade, tornamo-nos o "vale", a "ribanceira", figuras da humildade que, por estar no baixo, acolhe as águas e se torna grande como o mar.
Indo além da dualidade, retornamos ao estado primordial, 無極, Wu Ji; como o bebê que ainda não se vê com indiferenciado da mãe que o alimenta; como o pedaço de madeira que não foi trabalhado pelo marceneiro.
Nesse estado, rendemo-nos à nossa sabedoria intrínseca - o "sábio" - e agimos de modo plenamente natural - Wei Wu Wei, agindo pela não-ação - e realizando o Tao.

27 de abr. de 2016

¨APRESENTADO O TAO TE CHING¨ 22; 23; 24 e 25

Poema 22 do Tao Te Ching
曲則全
枉則直
窪則盈
弊則新
少則得
多則惑
是以聖人抱一
為天下式
不自見故明
不自是故彰
不自伐故有功
不自矜故長
夫唯不爭
故天下莫能與之爭
古之所謂曲則全者
豈虛言哉
誠全而歸之

Dobrando-se, está inteiro;
Curvando-se, está reto;
Sendo oco, está cheio;
Sendo gasto, está novo;
Sendo pouco, é ganho;
Sendo muito, é perda.
Por isso, o sábio abraça o Um,
Tornando-se modelo para o mundo.
Não se exibe, por isso ilumina;
Não se mostra, por isso se destaca;
Não se empenha, por isso tem sucesso;
Não se enaltece, por isso dura mais tempo.
Como não luta,
Não há ninguém no mundo que lute contra ele.
O que os antigos diziam: "Dobrando-se, está inteiro"
Não teria valor?
Verdadeiramente, tudo se integra assim.
Os pares de opostos se correlacionam com os aspectos exterior-interior. Uma injustiça pode assolar externamente o sábio, mas sua retidão interna se mantém.
Abraçar o Um é unir-se ao Tao.
Não se mostrar permite o sucesso interior.
Não lutando, não há como alguém lutar contra ele - esse é o nível máximo do Tai Chi Chuan.
Nessa busca interior encontramos nossa comunhão com tudo que existe.


Poema 23 do Tao Te Ching

希言自然
故飄風不終朝
驟雨不終日
孰為此者
天地
天地尚不能久
而況於人乎
故從事而道者
同於道
德者
同於德
失者
同於失
同於道者
道亦得之
同於德者
德亦得之
同於失者
道亦失之

Falar pouco é natural.
Assim como uma ventania não dura a manhã inteira.
E um temporal não dura o dia inteiro.
De onde vem isso?
Do Céu e da Terra.
O Céu e a Terra, tão antigos, não são eternos.
Não é assim com o homem também?
Aquele que se conduz de acordo com o Tao,
Une-se ao Tao.
Aquele de acordo com o Poder,
Une-se ao Poder.
Aquele que perde,
Une-se à perda.
Quem se une ao Tao
É alcançado pelo Tao.
Quem se une ao Poder do Tao
É alcançado pelo Poder do Tao.
Quem se une à perda
É perdido pelo Tao.

A época de Lao Tzu foi um tempo de grandes e bruscas transformações. Os estados independentes formavam tênues e efêmeras alianças para dominar estados rivais. O inimigo de ontem poderia ser o aliado de amanhã. Centenas de escolas filosóficas se desenvolviam, interagiam e eram incorporadas a correntes de pensamento mais vigorosas. Nesse vai-e-vem incessante, Lao Tzu encontra algo imutável.
Um furacão não dura um dia inteiro. Uma pessoa não passa 24 horas por dia falando. Tudo está em constante mudança. Mas há algo atemporal, supramaterial - o Tao. Pelo Poder ele é reconhecido e encontrado. Perdê-lo é ater-se à trajetória comum das coisas ordinárias, sendo arrastado para lá e para cá nos processos de degradação mundana.


Poema 24 do Tao Te Ching
企者不立
跨者不行
自見者不明
自是者不彰
自伐者無功
自矜者不長
其在道也曰
餘食贅行
物或惡之
故有道者不處

Quem se põe nas pontas dos pés não se firma;
Quem afasta muito as pernas não caminha;
Quem se exibe não ilumina;
Quem se mostra não se destaca;
Quem se empenha não tem sucesso;
Quem se enaltece não dura muito.
Quem está com o Tao diz:
"Restos de comida, excrescência supérflua".
Os seres sentem repugnância.
Quem tem o Tao não fica aí.

Esse poema continua a temática do 22. E, de fato, em manuscritos antigos aparece antes do 23.
O excesso, o supérfluo, a necessidade de superar os demais, coisas tão onipresentes hoje em dia, são obstáculos para a obtenção do Tao. É como oferecer comida para quem comeu até se fartar - dá náuseas. Não é essa a atitude de quem está no Tao.


Poema 25 do Tao Te Ching
有物混成
先天地生
寂兮寥兮
獨立不改
周行而不殆
可以為天下母
吾不知其名
字之曰道
強為之名曰大
大曰逝
逝曰遠
遠曰反

故道大天大地大王亦大
域中有四大
而王居其一焉

人法地
地法天
天法道
道法自然

Existe uma coisa indistintamente formada,
Anterior ao Céu e à Terra.
Intangível! Silenciosa!
Incondicionada e imutável.
Circula sem causar dano.
Pode ser considerada a mãe do mundo.
Não sei o seu nome;
Chamo-a de Tao.
Obrigando-me a considerá-la, denomino-a "Grande".
Sendo Grande, denomino-a "Aquela que orbita".
Sendo A que orbita, denomino-a "Distante".
Sendo Distante, denomino-a "Aquela que retorna".

O Tao é grande, o Céu é grande, a Terra é grande, o Rei é grande.
Existem esses quatro grandes,
E o Rei é um dentre eles.

O Homem é regido pela Terra
A Terra é regida pelo Céu.
O Céu é regido pelo Tao.
O Tao é regido pela própria natureza.

Existe algo que é anterior ao Céu e à Terra. Por falta de nome melhor, Lao Tzu denominou essa coisa de Tao. Os verbos que ele utiliza - "circular", "orbitar", são os termos utilizados na astronomia, já razoavelmente avançada na época. Indicam a presença do Tao em todo o Universo, e não apenas no nosso mundo.

Os Grandes poderes são o Tao, o Céu, a Terra, o Rei. O caractere para "Rei" 王 mostra aquele que liga os três níveis: Céu, Homem e Terra. Ou seja, a esfera espiritual, a esfera social e a esfera material. Todas estas instâncias são regidas, em última análise, pelo Tao, que rege a si mesmo, pela sua própria natureza.

6 de mar. de 2016

Adorável BADUANJIN de Escritório

Baduanjin (八段锦) (ou "pa tuan chin") pode ser traduzido literalmente do chinês como "Oito peças de brocado", o nome designa sequências de oito exercícios de Qigong utilizadas pela medicina tradicional chinesa como forma de manter ou recuperar a saúde e como um treino básico por diversos estilos de artes marciais chinesas.[1] Há uma sequência de movimentos para ser praticada de pé e outra para ser praticada sentado.[2]

A referência às "Oito peças de brocado" por vezes é explicada como uma associação entre a beleza e perfeição dos tecidos deseda e tapeçarias com a riqueza e satisfação originadas na boa saúde. É uma das formas de Chi Kung mais utilizadas como exercício.[3]

Histórico da prática do baduanjin
Há diversas histórias sobre sua origem, atribuindo sua criação à tradições do sul e do norte da China. A mais conhecida o vincula ao famoso General Yue Fei (岳飛), que teria desenvolvido estas séries de exercícios como forma de manter a saúde de seus comandados[4] [5] Assim esta prática teria sido criada no período da dinastia Song do Sul, entre 1127 e 1279 A.D..[1]

Outros autores, como Catherine Despeux, atribuem sua criação a Zhong Li (Chung-li Ch'üan), da dinastia Tang (618-907).

O texto da dinastia Wei (魏) "灵剑子引导子午记" se refere a um exercício de ginástica que corresponde a um dos que constituem o Baduanjin, mas a antiga referência a este nome registrada ocorre no Yi Jian Zhi (夷坚志), um texto da época da dinastia Song.

No Dao Shu, Zhong Miao Pian (道枢•众妙篇) há diversas descrições sobre o método de alongamento destes exercícios. Este título se refere ao fato que a sequência do Baduanjin se divide em oito técnicas, e que cada uma delas corresponde a uma frase que descreve o movimento e seus efeitos.

Cada técnica deve ser repetida diversas vezes, geralmente se recomenda oito repetições de cada movimento. A respiração acompanha a movimentação de modo natural. A língua é suspensa em direção ao palato, sem esforço, durante a realização da sequência.

Historicamente, a prática é realizada tanto dentro da tradição taoísta quanto na budista shaolin.

Após a revolução comunista chinesa foi um dos primeiros conjuntos de exercícios tradicionais chineses a ser reabilitado na década de 1950, despojado dos conceitos taoístas, tornou-se muito popular em toda a China, sendo inclusive praticado por Mao Zedong e Zhou Enlai.

Uma variação do baduanjin com 12 movimentos, conhecida como "Exercícios para a Saúde dos 12 Órgãos Internos", integra as práticas de Tai Chi Pai Lin oferecidas à população pela Secretária Municipal de Saúde de São Paulo.[6]

Atualmente estão sendo realizadas diversas pesquisas sobre os benefícios físicos e psicológicos que sua prática pode trazer para a saúde, como sua contribuição como prática complementar na prevenção da osteoporose [7] e no tratamento da depressão em idosos com doenças crônicas.[8]


Vamos exercitar adorável baduanjin no escritório. Trabalhamos muito tempo sem parar, não esqueça de relaxar e fazer um pouco de exercício. Compartilhe com a família.

Primeira forma: Duas mãos sustentam o céu e regulam o triplo aquecedor.
Segunda forma: Estender o arco para flechar o abutre (esquerda e direita)

Terceira forma: Regular Baço e Estomago, estendendo-se de alto a baixo
Quarta forma: Olhar girando para trás para tratar as "cinco agressões e sete lesões"
Obs: Cinco agressões e sete lesões = O clássico de medicina do Imperador Amarelo
classifica todos os adoecimentos nessas categorias.
Quinta forma: Balançar a cabeça e agitar a cauda para expelir o fogo do Coração
Sexta forma: Conectar mãos e pés para afirmar o rim e a cintura/lombar.

Sétima forma: Desferir socos com olhar zangado para aumentar o Qi e vigor.
Oitava forma: Ao longo das costas sete cucurutos para tratar cem doenças.

25 de fev. de 2016

¨APRESENTADO O TAO TE CHING¨ 18; 19; 20 e 21

Poema 18 do Tao Te Ching

大道廢
有仁義
智慧出
有大偽
六親不和
有孝慈
國家昏亂
有忠臣

Quando o grande Tao é abandonado,
Aparecem a benevolência e a justiça.
Quando surge a sabedoria,
Aparece a hipocrisia.
Quando os Seis Relacionamentos não são harmônicos,
Aparecem o amor filial e a compaixão.
Quando a pátria está em confusão,
Aparecem os servidores leais.


Quando um conceito é formado, significa que ele passou a ser uma necessidade. Segundo Lao Tzu, na longínqua antiguidade todos viviam de acordo com o grande Tao. Tudo era espontaneamente correto. Quando se perdeu o grande Tao, e as coisas passaram a não dar certo naturalmente, foram criados conceitos para suprir essa falta, o que o taoísmo considera artificialismo: benevolência, justiça, amor filial, compaixão, sabedoria e lealdade - virtudes capitais para o confucionismo.
Os "Seis Relacionamentos" são três pares de relações mútuas: pais-filhos, irmãos mais velhos-irmãos mais novos, marido esposa.
Como volta e meia aparecem críticas do taoísmo ao modelo confucionista, a mente ocidental tende a colocá-los em campos opostos. No entanto, como certo estudioso já se expressou:
"Tradicionalmente, todo chinês era confucionista na ética e na vida pública, taoísta na vida privada e em questões de higiene, e budista na hora da morte, com uma saudável pitada de xamanismo popular lançada ao longo da jornada”

Quando os Seis Relacionamentos não são harmônicos, aparecem o amor filial e a compaixão.

Os pais devem criar e educar os filhos.
Os filhos devem obedecer ao pais e ampará-los na velhice.
Os irmãos mais velhos devem orientar os mais novos.
Os irmãos mais novos devem seguir os mais velhos.
O marido deve amar e proteger a esposa.
A esposa deve amar e servir o marido.

O fato de estar explícito o comando nessas frases, através do verbo "dever", indica que esses comportamentos não são mais naturais (ou seja, de acordo com o Tao), e precisam de uma regulação externa.

Quando a pátria está em confusão, aparecem os servidores leais.

Quando está tudo bem na pátria, ninguém sabe nem quem é o governante.
Quando surge a confusão, os movimentos políticos palacianos são mais evidentes, o governante precisa de auxílio e de apoio, aí aparecem os ministros leais.
A figura do ministro (ou outro servidor) leal é louvada em outras escolas, como a confucionista e a moísta, mas para o taoísmo, é um sintoma de um problema no governo


Poema 19 do Tao Te Ching

絕聖棄智
民利百倍
絕仁棄義
民復孝慈
絕巧棄利
盜賊無有
此三者以為文不足
故令有所屬
見素抱樸
少私寡欲

Eliminando a sabedoria e descartando a inteligência,
O povo se beneficia cem vezes mais.
Eliminando a benevolência e descartando a justiça,
O povo retorna ao amor filial e à compaixão.
Eliminando as técnicas e descartando o ganho,
Acabam-se os ladrões e os bandidos.
Essas três recomendações não bastam;
É necessário mais outra sobre o que incluir:
Aparência modesta, com simplicidade no interior;
Reduzir o egoísmo e diminuir os desejos.


Lao Tzu apresenta, nesse capítulo, quatro conjuntos de recomendações ao governante:
- eliminar a sabedoria e descartar a inteligência;
- eliminar a benevolência e descartar a justiça;
- eliminar as técnicas e descartar o ganho;
- manter um exterior modesto e uma simplicidade interior, diminuir o egoísmo e os desejos.

O último conjunto de recomendações, que é mais facilmente compreendido, é um sumário dos outros três. Ele apresenta de maneira positiva (o que começar a fazer) aquilo que os outros três apresentam de maneira negativa (o que deixar de fazer).

Instituições exteriores inventadas pelo homem devem dar lugar a elementos da constituição interna orgânica da natureza.

Sabedoria/Inteligência - conhecimentos acumulados, que apenas nos enchem e não nos fazem felizes.

Benevolência/justiça - a ação caridosa que deve ser cultivada para que alguém seja reconhecido como "justo".

Técnicas/ganho - as invenções e a tecnologia são logo apropriadas por alguns poucos para gerar lucro a partir da exploração de muitos.

Para Lao Tzu, o aperfeiçoamento do homem e da sociedade não é feito pelo acúmulo de qualidades e ações deliberadas, mas pelo puro esvaziamento de todas as artificialidades. Ele prega uma "desregulamentação" das virtudes, para que a grande Virtude, que é o poder expresso do Tao possa, simplesmente, acontecer. Daí o nome do livro: "Clássico do Tao e seu Poder (Te). TAO e TE são os grandes temas aí.


Poema 20 do Tao Te Ching

絕學無憂,
唯之與阿,
相去幾何?
善之與惡,
相去若何?
人之所畏,
不可不畏。

荒兮其未央哉!
衆人熙熙,
如享太牢,
如春登臺。

我獨怕兮其未兆;
如嬰兒之未孩;
儽儽兮若無所歸。
衆人皆有餘,
而我獨若遺。
我愚人之心也哉!
沌沌兮,
俗人昭昭,
我獨若昏。
俗人察察,
我獨悶悶。
澹兮其若海,
飂兮若無止,
衆人皆有以,
而我獨頑似鄙。
我獨異於人,
而貴食母。

Eliminando a erudição, acabam-se as preocupações.
Entre "Um-hum!" e "Oh!",
Quanta diferença há?
Entre o belo e o feio,
Que diferença há?
O que os homens temem
É impossível não temer.

Oh, que imensa aridez!
O povão fica radiante,
Como quem desfruta de um grande banquete,
Como quem passeia pelos terraços de primavera.

Eu, por outro lado, não manifesto um sinal de preocupação.
Como um bebê que ainda não sorri,
Como se, exausto, não tivesse para onde retornar.
O povão vive pela fartura,
Enquanto eu não me importo com nada.
Minha mente é de um estúpido!
Alheio a tudo.
As pessoas comuns querem o brilho,
Mas eu sou nebuloso.
As pessoas comuns investigam a fundo,
Eu, por outro lado, fico em minha perplexidade.
Cheio de marolas, como o mar!
Inquieto, como o vento agitado!
As pessoas comuns tem os meios e fins precisos,
Eu sou rude e desprezível.
Eu sou diferente dos outros,
Dou valor à mãe que alimenta.


Lao Tzu continua sua crítica ferrenha contra a figura do sábio que é cheio de conhecimento.

Isso pode nos causar estranhamento, pois cultivamos um "sábio chinês" na nossa imaginação. Talvez um velhinho frágil, de vetusta barba, em atitude circunspecta, ouvindo nossas angústias, pontuando nossa fala com um eventual "Um-hum" de concordância ou um "Oh!" de admiração. Lao Tzu simplesmente aniquila essa fantasia.
Discussões teóricas sobre a beleza e a feiúra levam a delimitações conceituais artificiais.
Disso nada se conclui para o bom proveito da vida. O que os homens temem, continuam a temer.
O discurso desses sábios é de uma aridez sem fim, mas cativa o povão, que se deleita ao ouvir.
Lao Tzu não se importa com nada disso. Mantém sua inocência e não se perturba com esses assuntos. O bebê que ainda não aprendeu a sorrir mantém sua pureza, ignorando os estímulos exteriores.
O povão gosta da abundância e busca a fartura. Lao Tzu não está nem aí pra isso.
Em vez uma superfície plácida, ele tem marolas como o mar. Em vez de estático e imóvel, ele se agita como o vento.
Enfim, ele valoriza "a mãe que alimenta". A "mãe de todas as coisas" é o Tao (ver poema 1), e falar que é alimentado por essa mãe quer dizer que ele é sustentado pelo Tao.


Poema 21 do Tao Te Ching

孔德之容
唯道是從
道之為物
唯恍唯惚
忽兮恍兮
其中有象
恍兮忽兮
其中有物
窈兮冥兮
其中有精
其精甚真
其中有信
自古及今
其名不去
以順衆甫
吾何以知衆甫之然哉
以此

A expressão do grande Poder
Está em seguir o Tao.
A materialização do Tao
É, de fato, indefinida e indistinta.
Indistinta!! Indefinida!!
Em seu interior estão as formas.
Indefinida!! Indistinta!!
Em seu interior estão as coisas.
Profundo!! Obscuro!!
Em seu interior está a essência.
Sua essência é o mais verdadeiro.
Nela está a certeza.
Desde tempos antigos até agora,
Seu nome não se perdeu.
A ele segue o patriarca dos povos.
Como eu conheço a natureza do patriarca dos povos?
Por isso.


Lembrando que o Tao Te Ching é o "Clássico do Tao e seu Poder", temos aqui uma menção a esse poder: ele se manifesta naquele que segue o Tao. O caractere 德 significa, comumente, "virtude, moralidade", mas a filosofia taoísta utiliza-o para expressar a manifestação do Tao em alguém, ou o poder vindo do Tao. Vários capítulos vão se dedicar ao tema desse Poder.
Quando o Tao está para ser manifestado como esse Poder, não é bem discernível. Mas em seu interior está a ideia (forma), a materialidade e a essência de todas as coisas.
E, numa espécie de círculo que contém a si mesmo, dentro da essência está aquilo que não perde o nome, isto é, o Tao. O patriarca de todos os povos, isto é, a origem de tudo, se conforma ao Tao e por isso existe. Se não se conformasse ao Tao, não existiria.

8 de fev. de 2016

"APRESENTANDO O TAO TE CHING" 14, 15, 16 e 17

Poema 14 do Tao Te Ching

視之不見
名曰夷
聽之不聞
名曰希
搏之不得
名曰微
此三者不可致詰
故混而為一
其上不皦
其下不昧
繩繩不可名
復歸於無物
是謂無狀之狀
無物之象
是謂惚恍
迎之不見其首
隨之不見其後
執古之道
以御今之有
能知古始
是謂道紀

Quando olhado, não é visto:
Seu nome é "Raso".
Quando escutado, não é ouvido:
Seu nome é "Esparso".
Quando é perseguido, não é obtido:
Seu nome é "Mínimo".
Com esses três não é possível investigar,
E tudo se confunde num só.
Superiormente, não reluz.
Inferiormente, não faz sombra.
Sua continuidade não pode ser nomeada.
Ao retornar ao imaterial, é chamado "Forma sem forma";
A imagem do imaterial é chamada "Nebuloso".
Quando está vindo, não se vê sua frente;
Quando se vai atrás dele, não se veem suas costas.
O Tao que mantém o passado,
Por possuir o controle do agora,
Conhece o princípio primordial.
Isso é chamado "marcas do Tao".

A realidade do Tao não pode ser apreendida pelos sentidos ordinários. Cada um deles percebe o Tao de maneira particular e superficial.
Ele está além da visão que separa cima e baixo, dentro e fora, eu e o outro. Ele está em constante movimento, e recebe diferentes nomes em cada momento ou função. Assim, a vida se movimenta, entre o material e o imaterial, e um não vem antes do outro.
Ao longo do tempo, há o Tao.
Essas características, percepções e funções, são as marcas do Tao, ou o registro dele no mundo perceptível.


Poema 15 do Tao Te Ching

古之善為道者
微妙玄通
深不可識
夫唯不可識
故強為之容
豫兮若冬涉川
猶兮若畏四鄰
儼兮其若客
渙兮若冰之將釋
敦兮其若樸
曠兮其若谷
混兮其若濁
孰能濁以靜之徐清
孰能安以久動之徐生
保此道者
不欲盈
夫唯不盈
故能蔽不新成

Na antiguidade, os perfeitos seguidores do Tao
Eram sutis, obscuros e a tudo alcançavam.
Impossível conhecê-los em profundidade.
Não se podendo conhecê-los, forçamos uma descrição:
Precavidos, como quem atravessa um rio no inverno;
Tímidos, como quem receia todos os vizinhos;
Discretos, como um hóspede;
Desvanecidos, como o gelo que derrete;
Simplório, como um pedaço de pau;
Amplos, como os vales;
Confusos, como a água turva;
A água turva, em repouso, clareia aos poucos;
O que está em repouso, tarda em mover, e cresce aos poucos;
Aquele que guarda esse Tao
Não deseja tornar-se repleto;
Assim pode evitar ser cheio até a repleção.


O poema inicia se referindo à "antiguidade". Laozi observava a situação caótica da sociedade, e localizava seu mundo ideal num período anterior à civilização.
A lista de comparações busca evidenciar a incompreensão das pessoas civilizadas frente ao perfeito seguidor do Tao.
No final, o autor destaca que o perfeito seguidor do Tao não deseja tornar-se repleto, ou totalmente "cheio", pois, como visto no poema 11, o seu poder está no Vazio.


Poema 16 do Tao Te Ching

致虛極
守靜督
萬物並作
吾以觀復
夫物芸芸
各復歸其根
歸根曰靜
是謂復命
復命曰常
知常曰明
不知常
妄作凶
知常容
容乃公
公乃王
王乃天
天乃道
道乃久
沒身不殆

Alcançar o Vazio é o ponto máximo;
Guardar a quietude é a norma principal.
Todas as coisas surgem solidariamente,
E contemplamos o seu retorno.
As coisas existem em uma variedade de expressões,
Cada uma retorna à sua origem.
Retornar à origem é quietude;
Isso é chamado retornar à vida ordenada.
Retornar à vida ordenada é o Permanente.
Conhecer o Permanente é iluminação.
Não conhecer o Permanente é perder-se na desgraça.
Conhecer o Permanente é ter tolerância;
Tolerância leva à comunhão;
Comunhão leva a ser rei;
Ser rei leva ao Céu;
O céu leva ao Tao;
O Tao leva à longa existência.
Até o seu fim, não haverá perigo.


As coisas existem dentro de um ciclo. Todas surgem, existem por um tempo, e retornam ao seu princípio. Existe interdependência entre todas as coisas, e, apesar de tomarem diferentes formas, todas cumprem esse ciclo.
Retornar à sua origem é algo prescrito também para a sociedade humana moderna. Retornar à origem é voltar para a sua natureza primordial, para a vida "ordenada", constituída. "Vida", nesse sentido, se escreve . Uma voz () que faz um chamamento (). Uma vida com direção. Um outro conceito de vida é , que representa uma plantinha brotando do chão. É o conceito da vida biológica, vegetativa. "Being Tao" em chinês é 命道 - o Caminho (Tao) da Vida.
O que o poema chama de "Permanente" é a qualidade de ser mutável, que permeia tudo. "Só uma coisa não muda: o fato de tudo estar se transformando".
Ter a realização disso nos torna mais compreensivos e tolerantes. Assim podemos viver em comunidade. Uma comunidade onde há tolerância recíproca tem poder de se governar. Tal governo segue a lei do Céu, que é o Tao. E dentro do Tao, tudo se mantém por muito tempo.


Poema 17 do Tao Te Ching

太上
下知有之
其次
親而譽之
其次
畏之
其次
侮之

信不足焉
有不信焉
悠兮
其貴言
功成事遂
百姓皆謂
我自然

Do Grande Supremo,
Os de baixo só sabem da existência;
Ao que vem em seguida,
Eles amam e louvam;
Ao que vem em seguida,
Eles temem;
Ao que vem em seguida,
Eles desprezam.
Quem não confia o bastante
Não receberá confiança.
Relaxe!
A sua palavra é valorizada.
O trabalho é realizado e a tarefa, cumprida.
E o povo comum dirá:
"Fizemos naturalmente."


Mais um poema dirigido aos governantes. A sequencia apresentada no início (onde há um superior de quem só sabem que existe, depois há outro a quem amam e louvam, e assim por diante) é melhor entendida se vista como uma cronologia. Numa época remota e perfeita, o povo só sabia que o governante existia, e não tinha outras preocupações à respeito dele. Conforme o tempo passa, essa relação se deteriora: o governante precisa mostrar suas obras para ser amado, precisa mostrar seu poder para ser temido, e é desprezado quando erra.
O governante deve confiar no Tao, assim será digno da confiança daqueles abaixo dele. O que ele diz é levado em conta. Tudo é realizado a contento. E o povo a tudo faz sem se sentir constrangido, de livre e espontânea vontade.


Curiosidade: "povo comum" é 百姓. Literalmente, "cem sobrenomes".
Apesar da imensa população da China, os chineses compartilham umas poucas centenas de sobrenomes. Existem, por exemplo, cem milhões de chineses com o sobrenome . Todos os que tem o mesmo sobrenome compartilham de algum ancestral comum. Por outro lado, os nomes pessoais são bastante exclusivos, e é difícil encontrar alguém com o mesmo nome.

- a imensa maioria dos chineses tem um sobrenome de uma sílaba (Woo, Wang, Zhang, Zhao,...) e um nome pessoal de duas sílabas (Moo-Shong, Hsiao-Po, Honghua, Deming,...)

- Alguns chineses tem o nome pessoal com apenas uma sílaba. Por exemplo, Li Ding (um famoso mestre de Qigong - seu sobrenome é "Li" e seu nome pessoal, "Ding").

- existe uma meia dúzia de sobrenomes com duas sílabas. O sobrenome da minha avó era "Ouyang", o sobrenome do grande historiador da antiguidade chinesa, Sima Qian, também tem duas sílabas ("Sima").

3 de fev. de 2016

"APRESENTANDO O TAO TE CHING" 9, 10, 11, 12 e 13

Poema 9 do Tao Te Ching

持而盈之
不如其已
揣而銳之
不可長保
金玉滿堂
莫之能守
富貴而驕
自遺其咎
功遂身退
天之道

Manter o vaso cheio
Não é tão bom quanto renunciar a si mesmo.
Afiar continuamente um punhal
Faz com que ele não dure muito.
Um salão cheio de ouro e jade
Não pode ser mantido em segurança.
Orgulhar-se de riquezas e honrarias
Faz com que elas mesmas sejam perdidas.
Concluir o trabalho e afastar-se,
Esse é o Tao do Céu.


O "vaso" a que se refere o primeiro verso é um vaso ritual utilizado nas cerimônias confucionistas. Mais uma vez, uma crítica de Lao Tzu ao que ele considera um excesso de valorização dos rituais e cerimônias.
O poema segue, criticando os excessos, que muitas vezes são causa de ruína.
O comedimento e a temperança são o Tao do Céu, isto é, a Lei Natural que conduz à felicidade.

Curiosidade cultural: muitas vezes os pais chineses escolhem os nomes dos filhos inspirando-se em algum trecho de obras clássicas. Quando eu e meu pai estivemos em Chenjiagou (vila onde se originou o Tai Chi Chuan, e onde virtualmente toda a população pratica), ele criou uma forte amizade com o mestre Huang Man-Tang. Os nomes de pessoa no Oriente tem, em primeiro lugar, o nome de família, e, depois, o nome próprio. O nome do meu pai é, segundo o costume oriental, Woo Moo-Shong. Pois bem, o nome próprio do mestre Huang é "Man-Tang", ou "Salão Pleno", expressão que aparece no quinto verso do poema acima e que exprime o desejo dos seus pais de uma casa com fartura, onde nada falte.


Capítulo 10 do Tao Te Ching
A composição desse poema abre um amplo leque de interpretações possíveis.

載營魄抱一
能無離乎
專氣致柔
能嬰兒乎
滌除玄覽
能無疵乎
愛民治國
能無知乎
天門開闔
能為雌乎
明白四達
能無知乎

生之畜之
生而不有
為而不恃
長而不宰
是謂玄德

Fazendo uso da alma, abraça-se o Um;
É possível, então, não O deixar?
Concentrando o Qi, alcançamos a suavidade;
É possível, então, ser como um bebê?
Purificando a visão profunda,
É possível livrá-la de máculas?
Amar o povo e dirigir o país,
Pode ser feito sem o conhecimento?
Abrir e fechar as portas do céu,
Pode ser feito com feminilidade?
Ter a visão clara dos quatro extremos,
É possível sem o conhecimento?

Gerar, nutrir;
Gerar sem se apoderar;
Realizar sem condicionantes;
Fazer crescer sem dominar;
Isso se chama Poder Misterioso.


O poema começa com uma série de perguntas. Esse questionário avalia se o sujeito alcançou o Tao e se já se imbuiu do seu Poder ("Te", o Poder do Caminho, ou o poder manifesto por aquele que já realizou o Tao).

No taoísmo, temos várias expressões da alma:
é geralmente traduzido como alma corpórea - é a porção animal da alma;
é geralmente traduzido como alma extra-corpórea - a porção da alma que carrega nossas memórias e experiências; e assim por diante.
No poema, representa toda a nossa composição, todo o nosso ser. Se praticarmos até obtermos o Um, ou o Tao, seria possível deixarmos de tê-lo? (num paralelo pobre, mas que esclarece: "é possível que um ovo já cozido volte a ser cru?")

O verso que trata a concentração no Qi fundamenta as práticas de qigong ainda hoje.
A palavra "conhecimento" () no texto se refere ao conhecimento racional, objetivo, conceitual.
Quem responde "sim" a essas perguntas, obteve a visão profunda do Tao e alcançou seu misterioso poder.
Obs.: segundo verso - melhor escrito como "É possível, então, sempre O manter?"

Essas perguntas retóricas com negativas...


Poema 11 do Tao Te Ching
三十輻
共一轂
當其無
有車之用
埏埴以為器
當其無
有器之用
鑿戶牖以為室
當其無
有室之用
故有之以為利
無之以為用

Trinta raios de uma roda
Reúnem-se no eixo,
Mas é o seu vazio (onde o eixo se encaixa)
Que concede função ao carro.
A argila dá forma ao vaso,
Mas é o seu vazio
Que lhe dá utilidade.
Portas e janelas se destacam na parede,
Mas é o seu vazio (sua abertura)
Que torna útil a casa.
O Existir busca o acúmulo.
O Não-existir busca a função.

Conferimos a qualidade de ser real àquilo que vemos, tocamos, pesamos, medimos. Mas "a coisa" que permite que elas funcionem é o próprio vazio.
Em Medicina falamos de "estrutura e função". O paradigma antigo prescrevia que um mau funcionamento seria decorrente, necessariamente, de uma alteração na estrutura. Mas a observação de que haviam, sim, distúrbios funcionais, sem comprometimento estrutural, mudou essa visão.
Em nosso relacionamento com os demais, que valores temos mais prezados? Os exteriores e visíveis, ou a própria dinâmica da amizade?
Em nosso trabalho conosco mesmo, será que temos nos apegado a construções de orgulho, mecanismos de defesa, de neuroses? O que é o nosso vazio interno, pleno de potencialidade?


Poema 12 do Tao Te Ching

五色令人目盲
五音令人耳聾
五味令人口爽
馳騁田獵
令人心發狂
難得之貨
令人行妨
是以聖人
為腹不為目
故去彼取此

As cinco cores tornam as pessoas cegas;
As cinco notas musicais tornam as pessoas surdas;
Os cinco sabores tornam as pessoas sem paladar;
Galopadas e caçadas nos campos
Deixam as pessoas com a mente perturbada;
Haver objetos que são difíceis de se obter
Faz com que haja necessidade de os esconder.
Por isso, o Sábio
Age em prol da barriga e não em prol do olho,
Recusa este e busca aquele.


A quantidade "cinco" se refere aos Cinco Elementos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Na filosofia chinesa, esses cinco elementos abarcam todos os fenômenos. Assim, "cinco" significa "toda a variedade".
As cinco cores são: verde, vermelho, amarelo, branco e preto. A música tradicional chinesa utiliza a escala pentatônica, com cinco notas musicais: shang, yu, jue, zhi, gong. Os cinco sabores são: ácido, amargo, doce, picante e salgado.

Embriagar-se com a riqueza de estímulos que chegam aos nossos sentidos embota a nossa percepção. Deixar-se levar por aquilo que nos dá apenas prazer ("galopadas e caçadas") prejudica a capacidade de julgar a realidade.
Agir em prol da barriga é encontrar satisfação em saciar as necessidades fundamentais.
Não agir em prol do olho é não cobiçar aquilo que é além da conta, o supérfluo. E quanta coisa supérflua tomamos como essenciais!


Poema 13 do Tao Te Ching

寵辱若驚
貴大患若身

何謂寵辱若驚
寵為下
得之若驚
失之若驚
是謂寵辱若驚

何謂貴大患若身
吾所以有大患者
為吾有身
及吾無身
吾有何患

故貴以身為天下
若可寄天下
愛以身為天下
若可託天下

O agrado rebaixa, causa temor.
Considere as grandes desgraças como a si mesmo.

O que quer dizer "O agrado rebaixa, causa temor"?
O agrado inferioriza,
Recebê-lo causa temor,
Deixar de tê-lo causa temor.
Isso é que quer dizer "O agrado rebaixa, causa temor".

O que quer dizer "Considere as grandes desgraças como a si mesmo"?
Para que eu sofra grande desgraça,
É preciso que eu tenha um eu-mesmo.
Se eu não tivesse um eu-mesmo,
Que desgraça eu poderia sofrer?

Assim, àquele que valoriza a si mesmo tanto quanto valoriza o mundo
Pode-se confiar o mundo.
Àquele que ama a si mesmo tanto quanto o mundo
Pode-se entregar o mundo.


Receber agrados, ser elogiado, tudo isso pode nos tornar dependentes da sensação de satisfação com nós mesmos. Essa possibilidade amedronta (). Nesse caractere há a figura do cavalo (), então imaginamos um cavalo que está assustado. É essa sensação de medo e inquietação que é referida aqui, e que aparece na expectativa do agrado ("Eu mereço! Cadê o elogio?") e quando não recebemos o agrado ("Sou bom, por que não sou elogiado?").

Sentimos aflições porque somos centrados em nós mesmos, num "eu" que construímos ao longo da vida, uma máscara que permite a interação com o mundo a nossa volta e protege de ameaças externas. É uma máscara tão funcional, e que vamos cultivando por tanto tempo, que pensamos que ela seja "eu".
Para não ter aflições, esvazie o "eu" (fácil falar, difícil realizar).

Fechando o poema, versos que lembram a obra de redenção contida na mensagem cristã: Aquele que ama o mundo como a si mesmo, a ele o mundo é confiado.

Curiosidade:
Fazer um agrado, mimar uma criança se escreve com . Ter um dragão () sob o mesmo teto (). Pais de crianças mimadas reconhecem a imagem.

1 de fev. de 2016

"APRESENTANDO O TAO TE CHING" 6, 7 e 8

Por: Aristein Woo
Poema 6 do Tao Te Ching
Um dos mais herméticos de todo o livro. Segue uma das traduções possíveis.

谷神不死
是謂玄牝
玄牝之門
是謂天地根
綿綿若存
用之不勤

O espírito do vale não morre,
É chamado "Fêmea Misteriosa".
O portal da "Fêmea Misteriosa"
É chamado "Raiz do Céu e da Terra".
Contínuo, como se sempre existente,
Sua aplicação não se esgota.

O espírito de um vale significa a atitude de um vale, que se mantém no baixo para receber as águas e os rios. É a simplicidade do sábio, que acolhe todas as variedades de pessoas, com seus pensamentos e maneiras de ser, e catalisa a sua transformação.
significa obscura, escondida, misteriosa.
significa a fêmea de um animal, ou fechadura, ou vale. Ou seja, aquilo que recebe algo, e gera uma mudança: surge um ser, uma porta se abre, forma-se um rio.
A habilidade "misteriosa" é a capacidade de acolher e transformar. Isso é a raiz do Céu e da Terra, o grande segredo do universo. Dominando esse segredo, o sábio se torna como que imortal, e seu poder não acaba.


Poema 7 do Tao Te Ching

天長地久
天地所以能長且久者
以其不自生
故能長生

是以聖人後其身
而身先
外其身而身存
非以其無私耶
故能成其私

O Céu perdura, a Terra subsiste.
O Céu e a Terra podem ter tão longa existência
Porque não vivem para si mesmos,
Assim, existem por muito tempo.

Da mesma forma, o Sábio coloca-se por último,
E mantém-se à frente.
Isso não seria exatamente porque renuncia ao seu Ego?
É desta forma que ele realiza o seu Eu.


Mais uma vez, a conduta do Sábio se mostra semelhante às do Céu e da Terra. Renunciando a posições de destaque, ele assume, sem esforço (wu wei) a liderança. Renunciando a si mesmo, ele realiza o próprio ser.


Poema 8 do Tao Te Ching

上善若水
水善利萬物而不爭
處衆人之所惡
故幾於道
居善地
心善淵
予善天
言善信
政善治
事善能
動善時
夫唯不爭故無尤

Aquele que tem a suprema excelência é como a água.
A água tem sua excelência em beneficiar a todos, em tranquilidade; ocupando o lugar desprezado por todos. Nisso já se aproxima do Tao.
Sua morada é o lugar excelente,
Sua mente é profunda por excelência,
Seu dom é celestial por excelência,
Sua palavra é confiável por excelência,
Seu governo é competente por excelência,
Seus atos são eficazes por excelência,
Suas ações são oportunas por excelência.
Basta manter a tranquilidade e não haverá falha.


O homem de suprema excelência, ou o Sábio, é comparado, neste poema, com a água.
Ele beneficia a todos, conservando sua tranquilidade. Dessa maneira, sua excelência se expressa em outros aspectos da sua vida. Onde ele mora é a moradia por excelência - mas isso porque ele já alcançou a excelência em sua própria natureza.
A partir da tranquilidade, ele passa a beneficiar a todos. Assim, ele alcança excelência em sua casa, em suas atividades diárias, em seus pensamentos, em suas palavras, etc.
Tudo começa com a tranquilidade. Partindo daí, não tem erro.

É interessante já notar, uma vez que será um tema abordado em outros trechos do Tao Te Ching, como são escritos os caracteres para "palavra" e "confiável":

- "palavra", vemos a boca (retângulo), de onde saem os sons (traços horizontais acima da boca).

- "confiável", é a "pessoa" "de palavra" .

24 de jan. de 2016

" APRESENTANDO O TAO TE CHING " 4 e 5

Quarto poema do Tao te Ching

道沖而用之有弗盈也
淵兮似萬物之宗
挫其銳
解其紛
和其光
同其塵
湛兮似或存
吾不知其誰之子也
象帝之先

O Tao transborda, mas em sua aplicação não se chega ao máximo.
É de tal profundidade! É como o ancestral de todas as coisas!
Desbasta suas pontas afiadas,
Desfaz os bordados,
Ameniza seu brilho,
Homogeneíza a sujeira.

É de tal profundeza! Como se de existência incerta!
E não de quem ele é filho,
Pois parece anterior a Deus.


A primeira linha é de tradução difícil, pois 沖 pode ser interpretado tanto como "vazio", quanto como "transbordante". Talvez uma boa imagem seja a de uma leiteira esquecida no fogo. O leite sobe e transborda, esvaziando a leiteira. Essa é a situação descrita como 沖. Mas mesmo assim, o Tao não se esgota. No Tao, as coisas não chegam aos seus extremos (abaixo as posições extremadas!). Vamos desbastar nossas pontas afiadas, nossas "certezas plenas", nossos "dogmas pessoais". Vamos desfazer nossos bordados, as firulas e salamaleques que ostentamos socialmente. Ameniza seu brilho, recolhe seu orgulho, contenha seu desejo de se exibir. Homogeneíza sua sujeira, no Tao você não é o mais santo, e nem o mais impuro.
O Tao é tão profundo, que não sei de onde vem. É anterior a Deus, pois transcende as ideias religiosas - e as participações de ontem do mestre Dada, Nildenor e Antonio trouxeram muita luz neste aspecto.


Quinto poema.

天地不仁以萬物為芻狗
聖人不仁以百姓為芻狗

天地之間其猶橐籥乎
虛而不屈
動而愈出
多言數窮
不如守中

O Céu e a Terra não tem benevolência, todas as coisas são "cães de palha" para eles.
O Sábio não tem benevolência, todas as pessoas são "cães de palha" para eles.

O espaço entre Céu e Terra não se assemelha a um fole?
Vazio, mas não se esgota;
Quanto mais se move, mais sai dele.
Quanto mais palavras, maior a pobreza.
Nem se compara a guardar o centro.


Na época em que esse livro foi composto, os templos produziam bonecos de palha em forma de cães, que ficavam armazenados em lugares especiais, aguardando o momento de serem oferecidos às divindades. Após a oferenda, eles eram descartados como lixo.
O Sábio olha os demais seres humanos assim como o Céu e a Terra olham todas as coisas: totalmente insignificantes, descartáveis como esses cães de palha. Essa é uma crítica ao confucionismo, que prega a benevolência como uma das principais virtudes a ser cultivada. Para Lao Tzu, ela é uma artificialidade a ser ignorada pelo sábio, pois os grandes poderes (Céu e Terra) também não a possuem.

Os Três Grandes Poderes são o Céu, a Terra e o Homem. O Homem ocupa o espaço entre os outros dois. E esse mundo humano é semelhante a um fole. É esvaziado e torna a se encher. Em sua agitação, mais e mais coisas são produzidas. Entre essas coisas, palavras para explicar o Tao. Quanto mais palavras se usam para explicá-lo, mais pobre é a ideia e a realidade que as pessoas têm dele. O melhor é guardar o vazio interior essencial.

¨APRESENTANDO O TAO TE CHING¨ 2 e 3

Segundo poema:

天下
皆知美之為美
斯惡已

皆知善之為善
斯不善已

Sob o céu (天下 expressão que significa "o mundo"),
Todos, ao saberem que o belo é belo, fazem com que o feio apareça.

Todos, ao saberem que o apropriado é apropriado, fazem com que o inapropriado apareça.

Belo, feio, apropriado e inapropriado, são conceitos. Ao aprendermos o conceito de "belo", simultaneamente formamos o conceito de "feio", e assim por diante. Aprendemos a ver o mundo de maneira dual. Ao formarmos a noção do que seja "eu", ainda bebês, formamos, simultaneamente, a noção do que seja "não-eu". E essa visão dualista vai perpassando todas nossas experiências ao longo da vida.

Continuando o segundo poema.


有無相生,
難易相成,
長短相較,
高下相傾,
意聲相和,
前後相隨。

Assim,
O existir e o não-existir geram-se mutuamente,
O difícil e o fácil determinam-se mutuamente,
O longo e o curto medem-se mutuamente,
O alto e o baixo voltam-se um para o outro,
O pensamento e a palavra harmonizam-se mutuamente,
O anterior e o posterior sucedem-se um ao outro.

Nessa sequência de exemplos, a descrição de cada par evidencia a íntima relação entre os seus elementos.
Além da aparente dualidade, existe uma unidade. Só podemos ver um lado da moeda de cada vez, mas as duas faces formam uma só unidade - a própria moeda.

Fechando o segundo poema:

是以聖人處無為之事
行不言之教

萬物作焉而不辭
生而不有
為而不恃

功成而弗居
夫唯弗居
是以不去

Assim, o Sábio trata os assuntos pelo Não-Agir,
concede ensinamentos sem falar.

Ele não se esquiva de realizar as coisas.
Produz, mas não para possuir.
Conclui, sem depender de nada.

Ele obtém sucesso, mas não o guarda. Ele não reivindica ganho, por isso não o perde.

Ter a compreensão intelectual de que existe unidade subjacente à aparente dualidade não é tão difícil. Mas realizar essa verdade por completo implica uma sabedoria que está além das palavras. Quem o consegue é um verdadeiro Sábio, que ensina e faz de maneira não-dualista. Tudo já está nele, sem que ele faça questão disso.

Aparecem, nesse poema, dois conceitos importantes:
- o Sábio (聖人), que é aquele que realizou o Tao.
O caractere 聖 pode ser interpretado como o "rei" (王) que sabe quando "ouvir" (耳) e quando falar (口).

- "Não-Agir" (Wu Wei 無為): conceito que permeia toda a visão taoísta, e de difícil compreensão num ambiente em que precisamos fazer para ter. Significa não fazer oposição às leis naturais, realizando por meio de apenas seguir o curso da Natureza.

Os próximos três poemas são polêmicos e ferem a nossa visão da realidade.

Na época em que o Tao Te Ching foi escrito, a China estava dividida em dezenas de reinos independentes e rivais. A situação era caótica. As várias escolas filosóficas que surgiram no período propunham diferentes soluções para o problema. O taoísmo propunha o retorno a uma situação de plena harmonia com a natureza, despida de instituições humanas fabricadas/artificiais. Assim, alguns poemas foram escritos para aquele público específico. Mantendo isso em vista, podemos apreciar esses poemas e extrair deles algo proveitoso para a nossa situação presente.

O próximo poema apresenta conselhos para um governo sábio


Terceiro poema

不尚賢使民不爭
不貴難得之貨使民不為盜
不見可欲使心不亂

Não privilegiar os homens capazes faz com que o povo não crie conflitos;
Não valorizar o que é difícil de obter faz com que o povo não se torne ladrão;
Não ver o que pode vir a ser desejado faz com que a mente não se confunda.

Privilegiar os que são mais capazes provoca, por um lado, inveja; por outro, idolatria ou culto da personalidade. Ambas as situações são potencialmente belicosas.

Se a pessoa não tomar conhecimento daquilo que é inalcançável para ela, isso não gerará revolta.

Trabalhei numa localidade pobre, onde haviam duas situações distintas. Uma área era muito carente, sem energia elétrica e sem condições de transporte. A outra área já tinha casa de tijolos, luz elétrica e podia pagar a passagem de ônibus até o centro urbano (uma cidade pequena). O trabalho na área muito carente era mais recompensador, as pessoas eram mais gratas, seguiam melhor as orientações, e havia menos violência do que na área menos carente.
As pessoas que moravam na parte mais "remediada" tinha mais conhecimento do mundo exterior, dos luxos e de todas as benesses que elas "jamais" teriam. Isso gerava uma revolta, que resultava na situação que presenciei lá.


Finalizando o terceiro poema do Tao Te Ching:

是以
聖人之治
虛其心
實其腹
弱其志
強其骨

常使民無知無欲
使夫知者不敢為也
為無為則無不治

Por isso,
No governo do Sábio,
Se esvaziam suas mentes,
Se enchem suas barrigas,
Se enfraquecem suas vontades,
Se fortalecem seus ossos.

Sempre se mantém o povo sem conhecimento e sem desejo,
Assim, o inteligente não ousará assumir o governo.
Agindo, sem agir, não há o que não possa ser governado.


Se os ditos acima fossem apenas recomendações mundanas, o resultado seria um regime político semelhante ao da Coreia do Norte. E é uma das interpretações possíveis. Existe, também, a abordagem desse poema a partir de uma visão militar estratégica.
Para nós do Being Tao, no entanto, esse poema deve ser lido sob a óptica da MTC - Medicina Tradicional Chinesa.
Na MTC, o nosso organismo (com todos os aspectos físicos, emocionais e espirituais) é comparado com a estrutura de um império no livro "Clássico de Medicina do Imperador Amarelo". Assim, o "coração" é o imperador, o "pericárdio" é o principal ministro, o "fígado" é o general, e assim por diante.
Então, no poema acima, o Sábio é a própria pessoa quando vive de maneira saudável. A mente deve ser esvaziada de preocupações, culpas e angústias; o corpo, bem nutrido; os desejos, enfraquecidos; a nossa constituição, robustecida.
Praticar Being Tao é praticar o Wu Wei e desenvolver a sua saúde. E isso está ao alcance de todos. "Não há o que não possa ser "governado".
O caractere "治" aparece em 治國 (governar um país) e em 治療 (tratamento de saúde).

17 de jan. de 2016

" APRESENTANDO O TAO TE CHING "


Apresentando o Tao Te Ching
O Tao Te Ching, também grafado como "Tao Teh King", ou "Daodejing", é o livro fundamental da filosofia taoísta e sua autoria é atribuída a Lao Tzu (tbm transcrito como "Lao Tsé" ou "Laozi").

Sobre o título:
Tao: o Caminho
Te: o Poder desse Caminho
Ching: Clássico ou Cânone
Assim, temos "O Clássico do Caminho e seu Poder"

O Tao Te Ching começa com o célebre verso "O Tao que pode ser descrito em palavras não é o Tao permanente."

É interessante vermos muito rapidamente o verso no original: 道可道非常道。
A palavra Tao aparece TRÊS vezes. Na primeira e na terceira vez, como substantivo, mas na segunda, como verbo.
Brincando com as palavras, diríamos que o Tao que pode ser "Taozado" não é o Tao permanente.

O seu significado como substantivo é "Caminho, Ensinamento, Princípio Fundamental". E o seu significado como verbo é "Falar, relatar, enunciar". E, por apresentar tanto o aspecto de "Princípio Fundamental" quanto o de "Palavra", o Tao aproxima-se do Logos do Evangelho. Tanto que na tradução da bíblia para o chinês, escreve-se "No princípio era o Tao, e o Tao estava com Deus, e o Tao era Deus."

"O nome que pode ser nomeado não é o Nome permanente."

O verso é construído num exato paralelo do anterior: 名可名非常名. Assim, "Nome" é um dos atributos de um "Tao". O "nome que pode ser nomeado" corresponde ao "tao que pode ser descrito em palavras" - ambos não se referem àquilo que que é chamado de "permanente" por Lao Tzu.

Em seguida,
"O Sem Nome é o princípio do Céu e da Terra, o Com Nome é a mãe de todas as coisas."
無名天地之始
有名萬物之母

Aí se trata do Tao permanente em suas duas manifestações:
• "Sem Nome" (無名), o Tao amorfo primordial, existente desde antes do início, e, por isso, princípio do Céu - mundo espiritual () e da Terra - mundo material ().
• "Com Nome" (有名), o Tao do universo como o conhecemos, "Mãe" () das "Dez Mil Coisas" (萬物), ou seja, a base que gera, que produz, todas as coisas observáveis.

Finalizando o primeiro poema do Tao Te Ching:

此兩者
同出而異名
同謂之玄

玄之又玄
眾妙之門

Esses dois (o "com nome" e o "sem nome")
surgem juntos mas recebem denominações diferentes. Em conjunto, são chamados "Obscuro".

No Obscuro, há algo ainda mais obscuro, o portal para a multitude de maravilhas.

O taoísmo se prima por afastar-se dos extremos, pois o Tao está tão presente no espiritual quanto no material - ambos estão juntos. Um sacerdote que despreza o próprio corpo e um fisiculturista que não nutre seu espírito estão igualmente distantes do centro. E esse misterioso centro é o portal para as mil maravilhas.

Continuando a leitura do Tao Te Ching, os próximos versos dizem:

故常無欲
以觀其妙

常有欲
以觀其徼

"Assim, estando sempre sem desejo (cobiça), conseguimos contemplar seu mistério.
Estando sempre com desejo (cobiça), conseguimos contemplar seu contorno."

Apesar do Tao não poder ser descrito por palavras, nós podemos realizá-lo. A chave é não nos prendermos aos desejos, que nos arrastam de objeto em objeto, gerando insatisfação sem fim. Libertando-nos dos desejos, compreendemos a essência do Tao. Enquanto somos escravos dos desejos, apenas vislumbramos seu esboço.